sexta-feira, 6 de março de 2009

Os comediantes

Graham Greene

Haiti, «Papá Doc», a ditadura, e, à volta do déspota sem escrúpulos, a polícia secreta a cessão impiedosa, o pavor e a morte. Multidões e negros analfabetos, submetidos ao terror constante das prisões, da violência e das metralhadoras, multidões de crianças subalimentadas, mulheres prostituídas, homens desempregados e alcoolizados; rebeldes clandestinos que se escondem; na noite (e nunca mais se saberá se continuam o seu combate, se foram presos se atravessaram a fronteira de São Domingos, ou jazem, em qualquer caminho da montanha crivados de balas); idealistas lúcidos que se não calam e procuram dar o seu testemunho a cerca do inferno em que vivem e cuja face tremenda se lhes mostra em cada dia… Eis o mundo deste espantoso, actualíssimo e pungente livro Graham Greene, mundo de convulsões, de qualquer coisa imensa ainda como que em «gestação», entre clarões alucinantes e trevas onde ressoam os gritos. Mas o genial romancista inglês diz-nos, ainda, que nos grandes momentos, nos momentos decisivos da luta de um povo, a neutralidade é um crime. Os não comprometidos, os indiferentes à terrível batalha social que, em dadas horas, decide os destinos de uma nação, são «Os Comediantes» que, no Haiti martirizado, alicerçam os seus destinos sobre o egoísmo e a hipocrisia. Através de uma intriga empolgante, para além de um romance de acção, «Os Comediantes» constitui a vigorosa denúncia dos homens que, premeditadamente, traiem a luta libertadora de outros homens.

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